Tipos de revisões

Publicado por 17 de Agosto de 2022 em

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Existem perguntas de pesquisa que, por serem complexas ou necessitarem de respostas rápidas, devem ser respondidas por sínteses de evidências com particularidades metodológicas. Para isso existem diferentes tipos de revisões e a seleção do tipo mais adequado depende não apenas da pergunta, mas do contexto ao qual os resultados da revisão serão inseridos para auxiliar na tomada de decisão e informação em saúde. Precisamos lembrar que nem todas as perguntas de pesquisa são adequadas a uma revisão sistemática. E como escolher o melhor tipo de revisão? Veja abaixo um sumário comparativo dos principais tipos de revisão e seus aspectos metodológicos (Tabela 1).

 

Revisão narrativa

Também conhecida como revisão bibliográfica ou jornalística. Esse tipo tradicional de revisão tem como principal característica o relato de estudos publicados previamente sobre determinado assunto, porém utiliza métodos informais e subjetivos (e muitas vezes não relatados) para identificar, selecionar e sintetizar os resultados dos estudos incluídos. São utilizadas como resumos de evidências e são importantes para levantar questionamentos e reconhecer lacunas do conhecimento, ainda que parcialmente. As revisões narrativas também podem ser utilizadas como justificativa para novas pesquisas de melhor qualidade metodológica [1].

Limitações:

(i) a “liberdade” metodológica envolve a opinião pessoal dos autores, que geralmente são especialistas na área, e pode gerar suposições capazes de influenciar os resultados;

(ii) possibilidade de vieses relacionados à busca, seleção e avaliação dos estudos incluídos;

(iii) a falta de transparência no relato impede a replicação das etapas metodológicas e aplicabilidade dos resultados.

 

Revisão sistemática

As revisões sistemáticas utilizam métodos rigorosos, explícitos e reprodutíveis para mapear, avaliar criticamente e sintetizar todas as evidências disponíveis que respondam a uma determinada pergunta de interesse, com o objetivo de minimizar os possíveis vieses e produzir resultados confiáveis. São utilizadas para responder perguntas específicas e claramente formuladas, em sua maioria sobre intervenções em saúde, mas também questões sobre acurácia diagnóstica, prognóstico, entre outras. O processo de planejamento e condução de uma revisão sistemática envolve busca ampla e sensível em diferentes bases de dados e outras fontes de busca, critérios específicos para seleção dos estudos e extração dos dados, uso de ferramentas padronizadas para avaliação crítica das evidências, e métodos estatísticos para síntese dos resultados, incluindo a possibilidade de metanálises. Vale lembrar que metanálise é uma técnica para combinação estatística dos resultados dos estudos incluídos em uma revisão sistemática e tem como objetivo produzir resultados mais precisos ao comparar diretamente duas intervenções. Quando bem conduzidas, as revisões sistemáticas fornecem uma base confiável para a tomada de decisões em saúde, e devem ser atualizadas periodicamente [2].

Limitações:

(i) devido à ausência de evidências ou de qualidade dos estudos incluídos os resultados podem ser inconclusivos;

(ii) podem apresentar vieses relacionados à má condução das diferentes etapas metodológicas, por exemplo, viés de seleção, perda de estudos relevantes devido à busca inadequada etc.;

(iii) uma revisão sistemática deve ser realizada por pelo menos três pesquisadores, com expertise metodológica, clínica e estatística.

 

Revisão sistemática rápida

Segue a metodologia proposta para uma revisão sistemática, porém é realizada de forma a responder perguntas de interesse diante de cenários novos, críticos ou emergenciais, como por exemplo a pandemia de Covid-19. As revisões rápidas são uma forma de síntese de evidências que pode fornecer informações mais oportunas para a formulação de políticas em saúde do que as revisões sistemáticas convencionais. O tempo esperado para finalização da revisão varia entre 3 e 5 semanas. As revisões rápidas utilizam “atalhos” para acelerar o processo de condução tornando-a menos rigorosa. Por exemplo: a restrição de bases de dados, seleção dos estudos e extração dos dados realizada por apenas um autor, e não por dois autores independentes como ocorre na revisão sistemática tradicional [2,3].

Limitações:

(i) a omissão de algumas etapas metodológicas pode introduzir vieses.

(ii) deve ser realizada por pelo menos três pesquisadores com expertise metodológica e estatística avançadas.

 

Revisão sistemática com metanálise em rede

Esse tipo de revisão sistemática compara múltiplas intervenções concorrentes de forma simultânea, combinando resultados de estudos de comparações diretas (head-to-head) e indiretas em uma rede de estudos. É possível analisar os resultados de três ou mais estudos que compararam diferentes tratamentos para uma mesma condição clínica. Como nem sempre há comparações diretas para a intervenção que se deseja avaliar, as metanálises em rede são úteis para gerar respostas a partir de comparações indiretas, ou seja, comparações que não foram realizadas diretamente pelos ensaios clínicos, mas podem ser calculadas usando as estimativas das comparações diretas disponíveis. Por exemplo: entre os estudos que compararam diferentes medicamentos antidepressivos para o tratamento de transtorno bipolar, nenhum comparou aripiprazol versus risperidona. O que há disponível na literatura são estudos que compararam aripiprazol versus placebo e risperidona versus placebo. A partir do mesmo grupo comparador (placebo), é possível estimar o efeito do aripiprazol comparado à risperidona por meio de comparação indireta. A metanálise em rede combina os resultados das estimativas de efeito de comparações diretas (quando disponíveis) e indiretas, e fornece um ranqueamento da probabilidade de efeito dos diferentes tratamentos analisados. O processo de busca, seleção e avaliação crítica dos estudos é o mesmo utilizado em uma revisão sistemática convencional [2,4].

Limitações:

(i) depende da expertise metodológica e estatística da equipe de autores.

(ii) a heterogeneidade entre os estudos deve ser cuidadosamente avaliada para que se possa determinar a consistência dos resultados ao combiná-los em metanálise.

(iii) assume que todas as intervenções incluídas na “rede” são igualmente aplicáveis a todas as populações e contextos dos estudos incluídos.

 

Revisão de escopo

São utilizadas para sintetizar as evidências disponíveis sobre perguntas de pesquisa amplas e complexas. As revisões de escopo são úteis para a avaliação preliminar e conceitual da informação existente na literatura sobre determinado assunto por meio de metodologia transparente. Inclui busca ampla e sensível nas bases de dados eletrônicas e outras fontes de busca não estruturada, com o objetivo de mapear a natureza e a extensão das evidências. Inclui vários delineamentos de estudo e não avalia a qualidade das evidências. São úteis na identificação e lacunas na literatura [5].

Limitações:

(i) dependendo da complexidade da pergunta de interesse pode levar mais tempo para sua completude;

(ii) depende da expertise metodológica dos autores envolvidos.

(iii) resulta em uma análise ampla sobre o assunto de interesse.

 

Overview

Trata-se de uma revisão de revisões sistemáticas. As overviews seguem métodos explícitos e sistemáticos, semelhantes aos de uma revisão sistemática, para mapear, selecionar, avaliar criticamente e fornecer um resumo de todas as revisões sistemáticas disponíveis sobre uma pergunta de interesse. São realizadas quando há muitas revisões sistemáticas disponíveis sobre o assunto de interesse. Podem envolver perguntas amplas e levam menos tempo de desenvolvimento do que uma revisão sistemática convencional [2].

Limitações:

(i) desafios metodológicos relacionados à heterogeneidade e síntese dos dados das revisões sistemáticas encontradas;

(ii) depende da expertise metodológica e estatística dos autores envolvidos

 

 

Autores: Larissa Gomes Peres Bomfim, Vinícius Lúcio de Barros. Alunos de graduação da Universidade Metropolitana de Santos (UNIMES).

Supervisora: Ana Luiza Cabrera Martimbianco, MSc, PhD. Professora da Disciplina de Saúde Coletiva na Graduação de Medicina e da Disciplina de Saúde Baseada em Evidências do Programa de Pós-graduação em Saúde e Meio Ambiente da Universidade Metropolitana de Santos (UNIMES).

Citar como: Bomfim LGP, Barros VL, Martimbianco ALC. Tipos de revisões. Estudantes para Melhores Evidências. Cochrane. Disponível em: [adicionar link da página da web]. Acessado em [adicionar dia, mês e ano de acesso].

Referências:

1. Grant MJ, Booth A. A typology of reviews: an analysis of 14 review types and associated methodologies. Health Info Libr J. 2009 Jun;26(2):91-108. doi: 10.1111/j.1471-1842.2009.00848.x.

2. Higgins JPT, Thomas J, Chandler J, Cumpston M, Li T, Page MJ, Welch VA (editors). Cochrane Handbook for Systematic Reviews of Interventions version 6.3 (updated February 2022). Cochrane, 2022. Available from www.training.cochrane.org/handbook.

3. King VJ, Stevens A, Nussbaumer-Streit B, Kamel C, Garritty C. Paper 2: Performing rapid reviews. Syst Rev. 2022 Jul 30;11(1):151. doi: 10.1186/s13643-022-02011-5.

4. Peters MDJ, Marnie C, Tricco AC, Pollock D, Munn Z, Alexander L, McInerney P, Godfrey CM, Khalil H. Updated methodological guidance for the conduct of scoping reviews. JBI Evid Synth. 2020 Oct;18(10):2119-2126. doi: 10.11124/JBIES-20-00167.

5. Mills EJ, Ioannidis JP, Thorlund K, Schünemann HJ, Puhan MA, Guyatt GH. How to use an article reporting a multiple treatment comparison meta-analysis. JAMA. 2012 Sep 26;308(12):1246-53. doi: 10.1001/2012.jama.11228.

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