AGREE II: avaliação da qualidade de diretrizes clínicas

Publicado por 16 de Agosto de 2023 em

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Contexto 

Diretrizes clínicas são recomendações, elaboradas de forma sistemática, que visam otimizar e qualificar o cuidado em saúde orientando as decisões dos profissionais de saúde e dos pacientes em situações clínicas específicas [1]. As diretrizes clínicas têm o potencial de beneficiar pacientes, profissionais e sistemas de saúde, uma vez que podem contribuir para melhores resultados de intervenções, maior consistência na oferta de cuidado, desenvolvimento de políticas públicas mais adequadas e maximização da eficiência das condutas. No entanto, diretrizes clínicas não são isentas de falhas. No processo de elaboração de diretrizes, evidências científicas podem ser insuficientes ou mal interpretadas, recomendações podem ser influenciadas por opiniões pessoais e o benefício ao paciente pode ser relegado em favor de interesses escusos, podendo resultar em danos [2]. 

O instrumento AGREE (do inglês, Appraisal of Guidelines Research & Evaluation) é uma ferramenta de avaliação da qualidade de diretrizes clínicas desenvolvida originalmente em 2003 e atualizada em 2009, passando a ser denominada AGREE II. O AGREE II analisa as diretrizes considerando os eventuais vieses, a aplicabilidade e as evidências que embasam as recomendações e permite avaliar a validade esperada da recomendação, ou seja, a probabilidade de ela atingir os resultados finais pretendidos [3]. 

 

AGREE-II 

A avaliação proposta pelo instrumento AGREE II inclui 23 itens, divididos em 6 domínios (Quadro 1), aos quais se somam dois itens de avaliação global da diretriz. Os domínios do AGREE II são “Escopo e finalidade” (três itens), “Envolvimento das partes interessadas” (três itens), “Rigor do desenvolvimento” (oito itens), “Clareza da apresentação” (três itens), “Aplicabilidade” (quatro itens) e “Independência editorial” (dois itens) [1]. 

 

Como utilizar o AGREE-II 

Cada um dos 23 itens deve ser classificado em uma escala que varia de 1 a 7, sendo o escore 1 “discordo totalmente” e o escore 7 “concordo totalmente”. Os domínios são avaliados separadamente, de modo que se obtém uma pontuação por domínio. Após a atribuição dos escores de cada item, calcula-se a pontuação de cada domínio de acordo com a fórmula: (pontuação obtida – pontuação mínima possível) / (pontuação máxima possível/pontuação mínima possível) x100 [1]. 

A avaliação global da diretriz compreende dois itens: 

  • “Classifique a qualidade global dessa diretriz”: deve ser classificado em uma escala de 1 (“discordo totalmente”) a 7 (“concordo totalmente”).  
  • “Eu recomendaria o uso desta diretriz”: apresenta três opções de resposta: “Sim”, “Sim, com modificações” ou “Não”. 

 

Quadro 1. AGREE II (tradução livre para o Português, extraída de [3]. 

 

Quando utilizar o AGREE II?

O AGREE II é um instrumento genérico, ou seja, pode ser utilizado para diretrizes relacionadas a qualquer condição clínica, em qualquer fase do cuidado em saúde (promoção da saúde, rastreamento, diagnóstico, tratamento ou prevenção). Pode ser aplicado para avaliar diretrizes novas, já existentes, ou versões atualizadas de diretrizes [1,3].

Importante pontuar que o AGREE II não avalia o impacto da recomendação nos resultados finais de saúde (desfechos) dos pacientes. Também não é adequado para avaliar a qualidade de diretrizes relacionadas a gestão de sistemas de saúde ou a avaliações de tecnologia em saúde ou diretrizes metodológicas [1,3]

 

Conclusão

É importante saber que nem todas as diretrizes clínicas são planejadas, conduzidas e relatadas de forma adequada e suficiente para garantir confiabilidade para seus resultados. E as diretrizes somente terão benefícios potenciais para a prática clínica e para a gestão em saúde se tiverem sido planejadas e desenvolvidas com alto rigor metodológico. Assim, o AGREE-II é um importante instrumento para nos apoiar a identificar diretrizes clínicas com boa qualidade.

 

 

Autores: Alexandre Veronese Araújo, Camila Santos Lopes, Carolina Loyelo, Dyannye Fiochi de Souza, Giovanna Ciutti, Giovanna Novais Campos, João Victor Souza de Lima. Alunos de graduação da Escola Paulista de Medicina (EPM), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Supervisora: Rachel Riera. Professora adjunta, Disciplina de Medicina Baseada em Evidências, Escola Paulista de Medicina (EPM), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

 

Citar como: Veronese-Araújo A, Lopes C, Loyelo C, Fiochi D, Ciutti GLR, Campos G, De Lima JVS, Riera R. AGREE II: avaliação da qualidade de diretrizes clínicas . Estudantes para Melhores Evidências. Cochrane. Disponível em: [adicionar link da página da web]. Acessado em [adicionar dia, mês e ano de acesso].

 

Referências

1. AGREE Next Steps Consortium (2009). The AGREE II Instrument [versão eletrônica]. Disponível em: http://www.agreetrust.org. Acessado em 08 de agosto de 2023.

2. Woolf SH, Grol R, Hutchinson A, Eccles M, Grimshaw J. Potential benefits, limitations, and harms of clinical guidelines. BMJ. 1999; 318:527. doi:10.1136/bmj.318.7182.527.

3. Latorraca COC, Pacheco RL, , Rafael Leite; Martimbianco ALC, pachito DV, Riera R. AGREE II – Uma ferramenta para avaliar a qualidade e o relato de guidelines. Estudo descritivo.Diagn. Tratamento. 2018;23(4): 141-6. Disponível em: https://docs.bvsalud.org/biblioref/2019/04/987476/rdt_v23n4_141-146.pdf. Acessado em 08 de agosto de 2023.

 

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