Período de washout
Publicado por 22 de Maio de 2025 em Estudantes para Melhores Evidências

Definição
No contexto de pesquisas clínicas, o período de whashout se refere ao intervalo necessário entre o uso de duas intervenções sequenciais para garantir que a primeira intervenção não esteja mais agindo no organismo dos participantes quando ele receber a segunda intervenção [1].
O termo em inglês, significa “limpeza” ou lavagem” – fazendo uma analogia. O washout evita possíveis interferências entre os tratamentos que podem dificultar a análise do efeito isolado de uma das intervenções, o que é conhecido como efeito carry-over e também garante uma maior segurança aos participantes, com menores riscos de interação medicamentosa [2]. Para saber mais sobre o efeito carry-over, acesse o texto https://eme.cochrane.org/efeito-carry-over/ [2].
O washout é frequentemente utilizado em ensaios clínicos com delineamento cross-over [3]. Neste delineamento, os grupos recebem as intervenções de modo concomitante ao longo do tempo, mas em determinado momento do estudo, as intervenções recebidas são trocadas entre os grupos e todos os participantes recebem todas as intervenções, mas durante diferentes períodos ao longo do estudo [4]. Nem todo ensaio clínico necessita de washout e a duração deste período pode variar de acordo com cada estudo.
Como estimar a duração do período de washout
- Calcular a meia-vida do medicamento: meia-vida representa o tempo necessário para que a concentração do fármaco no corpo seja reduzida pela metade. O período de eliminação (washout) é normalmente o intervalo de tempo até que o nível do fármaco caia a um ponto em que seu efeito se torne desprezível, o que acontece após cerca de cinco meias-vidas. Por exemplo, se a meia-vida de um medicamento é de 6 horas, em aproximadamente 30 horas (5 x 6) sua quantidade residual no organismo seria muito baixa. [2]
- Levar em conta a variabilidade individual: para considerar a variabilidade entre indivíduos, é essencial observar aspectos como metabolismo, função hepática e renal, e outros fatores que podem alterar o tempo de eliminação de um fármaco. Com isso, os pesquisadores geralmente adotam margens de segurança adicionais ao estabelecer o período de washout, principalmente para medicamentos com meia-vida longa ou em populações onde o metabolismo pode ser diferente. [4]
- Considerar o desenho do estudo e o desfecho primário: quando os desfechos analisados podem ser sensíveis aos efeitos residuais de um fármaco, até pequenas concentrações remanescentes podem afetar os resultados do estudo. Nesses casos, um período de washout mais longo que o estimado pela meia-vida pode ser necessário para garantir que os efeitos anteriores não interfiram na fase seguinte do estudo [4].
Exemplos práticos de washout
Em um ensaio clínico que avalia a eficácia de antidepressivos, os participantes podem ser alocados para receber o antidepressivo A durante 10 meses, seguido por um washout de duas semanas antes de começarem a receber o antidepressivo B, que também será oferecido por 10 meses. Essa pausa entre as intervenções é importante para garantir que quaisquer efeitos remanescentes do antidepressivo A sejam eliminados antes do início do antidepressivo B [5]. Caso não haja esse intervalo, a influência do primeiro antidepressivo ainda presente poderia impactar a avaliação do segundo, resultando em um efeito carry-over que prejudica a análise precisa da eficácia do segundo tratamento [2].
Em ensaios clínicos cross-over sobre eficácia e segurança de terapia de reposição hormonal na menopausa, é preciso aguardar um período de washout para remover os hormônios sintéticos do organismo antes de iniciar um novo tratamento. Isso é crucial para prevenir interações hormonais que possam mascarar ou ampliar os efeitos do novo tratamento, prejudicando a análise dos resultados [6,7]. Sem o washout adequado, a comparação entre os tratamentos seria distorcida/enviesada, dificultando a avaliação precisa dos benefícios e riscos de cada terapia.
Autores: Adriane Oliveira Lima, Breno Henrich Moraes, Danilo Brito Silva, Isabela Fernanda Manoel, Isabella Marques Vieira, Juliana Yuka Washiya. Alunos de graduação da Escola Paulista de Medicina (EPM), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Citar como: Lima AO, Moraes BH, Silva DB, Manoel IF, Vieira IM, Washiya JY. Período de washout. Estudantes para Melhores Evidências. Cochrane.
Referências
- MRCT Center. Wash-out. Disponível em: https://mrctcenter.org/glossaryterm/wash-out/. Acessado em 14 de abril de 2025.
- Coelho IC, Melo JVDN, Caruso MC, Martins NHS, Soteras NS, Barnes RF, Silva RS, Rier R. Efeito carry-over. Estudantes para melhores evidências. Cochrane. Disponível em https://eme.cochrane.org/efeito-carry-over/.
- Pennsylvania State University. Washout period. STAT 509: Design and Analysis of Clinical Trials. Disponível em: https://online.stat.psu.edu/stat509/book/export/html/749.
- Oliveira ACZ, Domingues CP, Oliveira GAF, Morisita GJ, Ouverney LFF, Rocha LM, Riera R. Classificação e tipos de ensaios clínicos. Estudantes para melhores evidências. Cochrane.Disponível em https://eme.cochrane.org/classificacao-e-tipos-de-ensaios-clinicos/.
- 5. Vieira S, Hossne WS. Metodologia Científica para a Área de Saúde. (3ª edição). Grupo GEN; 2021. Disponível em: Minha Biblioteca
- Manual MSD. Interações Fármaco-Receptor. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/farmacologia-cl%C3%ADnica/farmacodin%C3%A2mica/intera%C3%A7%C3%B5es-f%C3%A1rmaco-receptor.
- Manual MSD. Relações Dose-Resposta. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/farmacologia-cl%C3%ADnica/farmacodin%C3%A2mica/rela%C3%A7%C3%B5es-dose-resposta.