Viés de participação voluntária

Publicado por 12 de Maio de 2025 em

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Contexto          

Para garantir a validade interna e a validade externa, pesquisas na área da saúde utilizam amostras populacionais de tamanho adequado e procuram um equilíbrio nas características da amostra incluída.

Nesse contexto, a utilização exclusiva de voluntários para compor os grupos de estudo pode impactar os resultados de um estudo e levar ao “viés de participação voluntária”[1].

Em um ensaio clinico, por exemplo, o “viés de participação voluntária” pode afetar todas as fases de deste estudo – desde o recrutamento até o acompanhamento dos participantes. O voluntariado, como estratégia de amostragem, pode limitar a amostra a participantes com características demográficas ou socioeconômicas, comportamentos e/ou hábitos específicos [1-3].

Frequentemente são pessoas instruídas, com maior poder aquisitivo, facilidade de locomoção ou vínculo com a instituição de pesquisa.  Por outro lado, estudos que abordam temas mais complexos, como o abuso de substâncias, por exemplo, não têm o engajamento de pessoas vulneráveis e que realmente são afetadas pelo objeto de pesquisa, fornecendo resultados inconclusivos e limitados a uma população específica [3].

 

Impacto do “viés de participação voluntária”

Quando a amostra não reflete fielmente a população-alvo, os resultados podem ser distorcidos, levando a interpretações inadequadas sobre a eficácia de intervenções ou sobre a prevalência de condições específicas. Isso implica em conclusões de estudos que não possam ser generalizáveis para o conjunto mais amplo da população, afetando a tomada de decisões em contextos clínicos e em políticas públicas [1,2].

 

Exemplos

Um exemplo clássico de estudo que pode elucidar o viés de participação voluntária é o artigo Volunteer Bias in Recruitment, Retention, and Blood Sample Donation in a Randomised Controlled Trial Involving Mothers and Their Children at Six Months and Two Years: A Longitudinal Analysis [2, 4]. Este estudo é utilizado no Catálogo de Viés, produzido pelo CEBM da University of Oxford [5].

Neste estudo, o viés de voluntariado pode levar à seleção de uma amostra que não representa a população geral, o que pode comprometer a generalização dos resultados e a interpretação dos dados clínicos. O potencial para viés voluntário pode ser evidenciado durante o teste, por exemplo, devido à não participação da população vulnerável e os fumantes que entraram no estudo. Isso pode sugerir que, ao longo do ensaio, o viés de participação voluntária se agravou porque indivíduos com menor condição socioeconômica e fumantes tiveram menor adesão ou maior taxa de abandono do processo de estudo, o que implica em tornar a amostra final ainda menos representativa da população geral, uma vez que esses grupos possam ter riscos de saúde e de comportamentos distintos e ficaram, por conta disso, sub-representados. Como consequência, os resultados do estudo podem não refletir com precisão as condições e necessidades dos segmentos mais vulneráveis, comprometendo a generalização das conclusões.

 

Estratégias para reduzir o viés

Para diminuir o viés de participação voluntária, medidas que aumentem a adesão e a heterogeneidade da amostra devem ser tomadas: divulgar campanhas, para aumentar o alcance do recrutamento em diferentes ambientes sociais; engajar-se com lideranças locais que possam utilizar sua influência para encorajar mais pessoas de sua comunidade a participarem da pesquisa.

 

Autores

Marina Pereira de Gouvêa, Heitor Justino Moura, Izadora Lima Solonca, Roberta Oliveira Alves Lima, ⁠Juliana Giannoni Ferreira, Pedro Nicolas Brito, João Felipe Aquino de Souza, Raphael Hikaru Ynoue, ⁠Julia Soares Reis, Gabriel Antônio de Oliveira, Isaque Gigo da Silva – Alunos da Escola Paulista de Medicina (EPM). Universidade de São Paulo (Unifesp)

 

Citar como:  Gouvêa MP, Moura HJ, Solonca IL, Lima ROA, Ferreira JG, Brito PN, Souza JFA, Ynoue RH, ⁠ Reis JS, Oliveira GA, Silva IG. Viés de participação voluntária. Estudantes ara Melhores Evidências. Cochrane. Disponível em: [adicionar link da página da web]. Acessado em [adicionar dia, mês e ano de acesso].

                                           

Referências

  1. Salkind NJ. Volunteer Bias. Encyclopedia of research design (volume 1). .Ed SAGE. 1ª edição (2010). Thousand Oaks, CA. 1412961270, 9781412961271.
  2. Brassey J, Mahtani KR, Spencer EA, Heneghan C. Volunteer bias. Catalogue Of Bias 2017. Diponível em: http://www.catalogofbias.org/biase. s/volunteer-bias. Acessado em 07 de abril de 2025.
  3. Porta M et al. A dictionary of epidemiology. 6th edition. New York: Oxford University Press: 2014
  4. Jordan S, Watkins A, Storey M, Allen SJ, Brooks CJ, Garaiova I, Heaven ML, Jones R, Plummer SF, Russell IT, Thornton CA, Morgan G. Volunteer bias in recruitment, retention, and blood sample donation in a randomised controlled trial involving mothers and their children at six months and two years: a longitudinal analysis. PLoS One. 2013 Jul 9;8(7):e67912. doi: 10.1371/journal.pone.0067912. PMID: 23874465; PMCID: PMC3706448.
  5. Brassey J, Mahtani KR, Spencer EA, Heneghan C. Volunteer bias. Catalogue Of Bias 2017. Disponível em: http://www.catalogofbias.org/biases/volunteer-bias. Acessado em 14 de abril de 2025.

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