O que é a Informed Health Choices?

Publicado por 29 de Julho de 2023 em

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Iniciativa Informed Health Choices  

Introdução 

O conhecimento correto sobre informações da saúde depende da capacidade dos indivíduos em avaliarem as informações obtidas, e isso inclui habilidades para compreender, julgar com base em conhecimentos científicos e tomar decisões a partir destas informações. No entanto, esta capacidade não parece ser frequentemente identificada em grande parte da população [1]. 

No mundo atual, estamos sendo constantemente bombardeados por uma infinidade de afirmações sobre a saúde. Essas afirmações podem abranger uma ampla gama de áreas, desde os efeitos de medicamentos e cirurgias até mudanças no estilo de vida, remédios fitoterápicos, medicina tradicional ou alternativa, intervenções de saúde pública e ambiental. É importante destacar que nem todas essas afirmações são verdadeiras, e muitas delas não são comprovadas; ou seja, não se sabe ao certo se são verdadeiras ou falsas [1]. 

Logo, acreditar e agir com base em afirmações não comprovadas sobre os efeitos de tratamentos pode levar ao desperdício de recursos e, pior ainda, causar danos às pessoas. 

 

Iniciativa Informed Health Choices (IHC) 

Considerando esse contexto e a importância de que os indivíduos participem do processo decisório em saúde de modo consciente, foi criada a iniciativa Informed Health Choices (IHC) [1]. Esta iniciativa é conduzida por uma rede internacional e multidisciplinar com décadas de experiência compartilhada em métodos de pesquisa, estudos sobre serviços de saúde, medicina, saúde pública, epidemiologia, design, educação, comunicação e jornalismo [2] 

Objetivo da IHC 

Por meio de uma abordagem baseada em evidências IHC tem como objetivo combater a desinformação em saúde, e busca capacitar a sociedade a avaliar criticamente as informações sobre tratamentos, comparações e escolhas de saúde.  

Conceitos-chave  

Uma das ações iniciais da IHC foi o desenvolvimento de uma lista de conceitos-chave fundamentais para desenvolver o raciocíncio crítico em saúde. São 49 conceitos-chave, agrupados em três categorias, que fornecem os princípios necessários para avaliar a confiabilidade das afirmações em saúde [3,4]. Os conceitos-chave tem como objetivos: 

  • reconhecer quando uma afirmação sobre os efeitos dos tratamentos tem uma base não confiável; 
  • reconhecer quando a evidência de comparações de tratamentos é confiável e quando não é; 
  • fazer escolhas bem-informadas sobre tratamentos em saúde 

Estes conceitos funcionam como um guia para que a sociedade: 

  • não se apoie apenas em experiências pessoais ou anedotas para avaliar os efeitos da maioria dos tratamentos 
  • reconheça que uma associação entre um resultado e um tratamento não necessariamente significa que o tratamento causou o resultado; 
  • compreenda que tratamentos amplamente utilizados ou com longa tradição nem sempre são benéficos ou seguros; 
  • não confunda a melhora de curto prazo com a cura de longo prazo; 
  • entenda que a ausência de evidências não significa que um tratamento é ineficaz ou perigoso [3,4]. 

IHC nas escolas 

A iniciativa IHC também desenvolveu um método de ensino específico para crianças de 10 a 12 anos, contendo 12 dos conceitos-chave, e que foi avaliado por meio de alguns ensaios clínicos em escolas de diferentes países da África [5-8]. 

Estes métodos abordam as seguintes informações, que foram consideradas importantes para serem ensinadas a crianças do ensino infantil e fundamental: 

  • tratamentos podem ser prejudiciais e experiências pessoais ou histórias não são confiáveis para avaliar a eficácia de tratamentos;  
  • a popularidade ou o tempo de uso de um tratamento não garantem sua eficácia ou segurança;  
  • tratamentos mais modernos, de marca ou mais caros não necessariamente são melhores do que outras alternativas disponíveis;  
  • opiniões de especialistas ou autoridades, por si só, não são suficientes para decidir sobre os benefícios e riscos dos tratamentos; 
  • conflitos de interesse podem levar a alegações equivocadas sobre os efeitos de um tratamento;  
  • é importante compreender a necessidade de comparações justas e confiáveis entre tratamentos e por isso é essencial que os grupos de comparação sejam semelhantes no início e que as pessoas não saibam qual tratamento estão recebendo durante o estudo.  
  •  estudos pequenos com poucos eventos contribuindo com os resultados podem não fornecer informações relevantes e os resultados de comparações individuais de tratamentos podem ser equivocados. 

Claim Evaluation Tools 

A iniciativa IHC desenvolveu um banco de questões chamado Claim Evaluation Tools, que contém perguntas de múltipla escolha para avaliar o a compreensão e a habilidade das pessoas em aplicar os conceitos-chave necessários para avaliar informações sobre tratamentos e fazer escolhas de saúde informadas por evidências [9]. Essas perguntas podem ser utilizadas em diversas formas, e contextos, como testes escolares, ensaios clínicos randomizados, estudos transversais e personalização de intervenções educacionais. 

O banco de questões é composto por perguntas desenvolvidas tanto para crianças a partir de 10 anos como para adultos. Ao invés de um questionário fixo, o Claim Evaluation Tools foi projetado como uma bateria flexível de perguntas de múltipla escolha, permitindo que professores, pesquisadores e outros selecionem as questões relevantes de acordo com o objetivo específico. Cada pergunta aborda um conceito-chave, possibilitando a criação de testes ou questionários personalizados. 

As perguntas do Claim Evaluation Tools estão  disponíveis em vários idiomas, incluindo chinês, inglês, alemão, luganda, norueguês e espanhol [10]. 

Conclusões 

Ao fornecer ferramentas e recursos que ajudam as pessoas a entender e avaliar a qualidade das informações de saúde, a IHC capacita os indivíduos a tomar decisões informadas que são baseadas em evidências sólidas e confiáveis. A iniciativa IHC é uma inspiração para a promoção de uma cultura de alfabetização em saúde, onde as pessoas são capacitadas a serem participantes ativas no cuidado com sua própria saúde.  

Autores: Henrique Cruz Fermiano, Kenzo Sano Shine, Lara Baladi Garcia, Larissa Silva Bruschi, Lucas de Oliveira Siqueira, Natália Ardito Schimidt. Alunos da Escola Paulista de Medicina (EPM), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). 

Supervisora: Rachel Riera. Professora adjunta, Disciplina de Medicina Baseada em Evidências, Escola Paulista de Medicina (EPM), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). 

Citar como: Fermiano HC, Shine KS, Garcia LB, Bruschi LS, Siqueira LO, Schimidt NA, Riera R. Iniciativa Informed Health Choices. Estudantes para Melhores Evidências. Cochrane. Disponível em: [adicionar link da página da web]. Acessado em: [adicionar dia, mês e ano de acesso]. 

 

Referências 

  1. Informed Health Choices. Disponível em: https://www.informedhealthchoices.org/. Acessado em 10 de julho de 2023. 
  2. Oxman AD, Chalmers Iain, Dahlgren A. Key Concepts for assessing claims about treatment effects and making well-informed treatment choices (Version 2022). Disponível em: https://zenodo.org/record/6611932. Acessado em 10 de julho de 2023. 
  3. Informed Health Choices. The IHC network. Disponível em: https://www.informedhealthchoices.org/about/the-ihc-team/. Acessado em 10 de julho de 2023. 
  4. Austvoll-Dahlgren A, Oxman AD, Chalmers I, Nsangi A, Glenton C, Lewin S, Morelli A, Rosenbaum S, Semakula D, Sewankambo N. Key concepts that people need to understand to assess claims about treatment effects. J Evid Based Med. 2015;8(3):112-25. doi: 10.1111/jebm.12160. PMID: 26107552. 
  5. Semakula, D., Nsangi, A., Oxman, A.D. et al. Effects of the Informed Health Choices podcast on the ability of parents in Uganda to assess the trustworthiness of claims about treatment effects: one-year follow-up of a cluster-randomised trial. Trials.2020;21:187.doi:10.1186/s13063-020-4093-x. 
  6. Nsangi A, Semakula D, Oxman AD, et al. Effects of the Informed Health Choices primary school intervention on the ability of children in Uganda to assess the reliability of claims about treatment effects: a cluster-randomised controlled trial. Lancet. 2017; doi.org/10.1016/ S0140-6736(17)31226-6. 
  7. Mugisha, M, Nyirazinyoye, L, Oxman, et al.  Use of the Informed Health Choices digital resources for teaching lower secondary school students in Rwanda to think critically about health: protocol for a process evaluation (Version 3). Zenodo.2022. Disponível em:  https://doi.org/10.5281/zenodo.6874985. Acessado em 10 de julho de 2023. 
  8. Chesire F,  Kaseje M, Ochieng M, et al. Effect of the Informed Health Choices digital secondary school resources on the ability of lower secondary students in Kenya to critically appraise health claims: protocol for a process evaluation (Version 5). Zenodo.2022. Disponível em: https://doi.org/10.5281/zenodo.6919372. Acessado em 10 de julho de 2023. 
  9. Austvoll-Dahlgren A, Semakula D, Nsangi A, Oxman AD, Chalmers I, Rosenbaum S, Guttersrud Ø, and the IHC Group. Measuring ability to assess claims about treatment effects: the development of the “Claim Evaluation Tools”. BMJ Open 2016;6:e013184. doi:10.1136/bmjopen-2016-013184. 
  10.  Informed Health Choices. Claim Evaluation Tools. Disponível em: https://www.informedhealthchoices.org/claim-evaluation-tools/. Acessado em 10 de julho de 2023. 

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