O que são revisões sistemáticas rápidas?

Publicado por 27 de Maio de 2022 em

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Contexto 

As revisões sistemáticas têm como objetivo reunir, avaliar criticamente e sintetizar os estudos disponíveis sobre uma determinada pergunta de pesquisa. Trata-se do nível mais alto de evidência para orientar a tomada de decisões e a formulação de políticas em saúde. Sabemos que as revisões sistemáticas são estudos complexos e que possuem diversas etapas metodológicas, e por esta razão o tempo necessário para sua realização pode ser extenso. No cenário emergencial de algumas situações em saúde, como por exemplo a pandemia de Covid-19, as evidências científicas são requisitadas quase que em tempo real para que possam auxiliar os tomadores de decisão no manejo da doença e na disponibilização de recursos em tempo hábil. As revisões sistemáticas rápidas utilizam atalhos no processo metodológico de uma revisão sistemática tradicional, com o objetivo de obter informações baseadas em evidências confiáveis de forma mais rápida para atender a estas demandas [1,2].

Definição 

As revisões sistemáticas rápidas estão sendo cada vez mais utilizadas no suporte às decisões sobre políticas de saúde pública e privada, urgentes e emergentes. Segundo o Cochrane Rapid Reviews Methods Group1 estas revisões possuem método rigoroso e transparente e, são, portanto, sistemáticas, porém fazem concessões à amplitude ou profundidade do processo, restringindo etapas específicas de uma revisão sistemática para encurtar o prazo de conclusão [3]. 

Embora o conceito de revisão rápida não seja novo, ainda não há um consenso sobre sua definição e características metodológicas, sendo descrita como uma síntese de conhecimento que acelera o processo de condução de uma revisão sistemática tradicional por meio da simplificação ou omissão de etapas metodológicas para produzir evidências para as partes interessadas de maneira eficiente e em curto espaço de tempo. Contudo, o processo de uma revisões rápida deve respeitar os princípios de uma síntese de evidências, incluindo o planejamento prévio dos métodos e o relato transparente dos objetivos da revisão, critérios de elegibilidade, avaliação da validade dos resultados (por exemplo, com a avaliação do risco de viés do estudos incluídos) e apresentação sistemática e síntese dos resultados [2]. 

Espera-se que uma revisão rápida seja concluída entre 1 e 6 meses dependendo de fatores como: recursos disponíveis, complexidade do tema, volume de evidências disponíveis, expertise das equipe envolvida e o processo organizacional [4]. Uma busca preliminar na literatura pode auxiliar na definição do escopo e na análise da viabilidade de condução da revisão rápida. 

Algumas das abordagens utilizadas no processo de uma revisão rápida são: restringir o escopo da pergunta de pesquisa, limitar a busca por data ou idioma, limitar o número de bases de dados pesquisada, evitar a busca na literatura cinzenta e o contato com especialistas ou autores dos estudos primários [4]. Limites geográficos também podem ser usados para aumentar a aplicabilidade. Os revisores escolhem quais etapas limitar, porém é importante que cada concessão seja relatada de forma detalhada para garantir a transparência do processo, evidenciar os possíveis vieses envolvidos e como lidar com o impacto dessas limitações nos resultados do estudo [3]. Assim, é preciso encontrar um equilíbrio entre “abreviar” ou “acelerar” os métodos e manter o rigor metodológico e a transparência das revisões tradicionais [2]. É essencial que a equipe de revisores tenha vasta experiência na metodologia de revisões sistemáticas. 

O Quadro 1 caracteriza as principais diferenças entre revisões sistemáticas rápidas e revisões sistemáticas tradicionais. 

Quadro 1. Revisão sistemática rápida versus revisão sistemática tradicional  

Conclusão 

As revisões rápidas são relevantes para a tomada de decisão em saúde, embora normalmente não sejam capazes de lidar com questões mais complexas. Por esta razão devem ser realizadas em resposta a perguntas específicas sobre temas novos, emergentes ou críticos, e não como forma de substituição a uma revisão sistemática tradicional. Poucos estudos empíricos compararam os achados de revisões rápidas e revisões sistemáticas sobre o mesmo tema, e seus resultados são conflitantes, inconclusivos e ainda deixam dúvidas sobre o impacto dos vieses produzidos na revisão rápida na validade dos resultados [5]. Mais pesquisas são necessárias para que se possa definir de forma mais clara os métodos e características das revisões rápidas e o manejo de suas limitações para que possam auxiliar na tomada de decisão informada por evidências na prática clínica e políticas em saúde. 

Autores: Maria Eduarda Onuki, Kamilla Mayr Sá, alunas de graduação da Universidade Metropolitana de Santos (UNIMES). 

Supervisora: Ana Luiza Cabrera Martimbianco, MSc, PhD. Professora da Disciplina de Saúde Coletiva na Graduação de Medicina e da Disciplina de Saúde Baseada em Evidências do Programa de Pós-graduação em Saúde e Meio Ambiente da Universidade Metropolitana de Santos (UNIMES). 

Citar como: Onuki ME, Sá KM, Martimbianco ALC. Revisões sistemáticas rápidas. Estudantes para Melhores Evidências. Cochrane. Disponível em: [adicionar link da página da web]. Acessado em: [adicionar dia, mês e ano de acesso].   

Referências: 

  1. Garritty C, Gartlehner G, Nussbaumer-Streit B, King VJ, Hamel C, Kamel C, Affengruber L, Stevens A. Cochrane Rapid Reviews Methods Group offers evidence-informed guidance to conduct rapid reviews. J Clin Epidemiol. 2021 Feb;130:13-22. doi: 10.1016/j.jclinepi.2020.10.007. 
  2.  Tricco AC, Langlois EV, Straus SE, editors. Rapid reviews to strengthen health policy and systems: a practical guide. Geneva: World Health Organization; 2017. Licence: CC BY-NC-SA 3.0 IGO. Diponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/258698/9789241512763-eng.pdf.
  3. Tricco AC, Antony J, Zarin W, Strifler L, Ghassemi M, Ivory J, Perrier L, Hutton B, Moher D, Straus SE. A scoping review of rapid review methods. BMC Med. 2015 Sep 16;13:224. doi: 10.1186/s12916-015-0465-6.
  4. Grant MJ, Booth A. A typology of reviews: an analysis of 14 review types and associated methodologies. Health Info Libr J. 2009 Jun;26(2):91-108. doi: 10.1111/j.1471-1842.2009.00848.x.
  5. Haby MM, Chapman E, Clark R, Barreto J, Reveiz L, Lavis JN. What are the best methodologies for rapid reviews of the research evidence for evidence-informed decision making in health policy and practice: a rapid review. Health Res Policy Syst. 2016 Nov 25;14(1):83. doi: 10.1186/s12961-016-0155-7.  

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