Prevenção quaternária

Publicado por 16 de Maio de 2022 em

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Definição 

Prevenção quaternária é definida, pela Organização Mundial de Médicos da Família (World Organization of Family Doctors – WONCA) como uma ação ou estratégia para identificar uma pessoa ou população em risco de supermedicalização [1]. Inclui um conjunto de ações para evitar danos ao paciente, decorrentes de intervenções desnecessárias. 

É um conceito que vincula a melhoria da qualidade da prática profissional e da ética do cuidado com o paciente, evitando o uso desnecessário de intervenções e seus riscos. 

Esse conceito se torna ainda mais importante à medida que o desenvolvimento tecnológico e a ampliação do acesso aos sistemas de saúde se fazem presentes, passando a permitir diagnósticos precoces, mas também, eventualmente desnecessários. Essas situações podem gerar desconforto, ansiedade e colocar pacientes e profissionais de saúde em um sistema de alerta que impulsiona a realização de mais exames, intervenções terapêuticas ou profiláticas sob risco de overdiagnosis e overtreatment.  

 

Objetivos  

O objetivo da prevenção quaternária é proteger o indivíduo e a população de nova intervenção médica invasiva e sugerir procedimentos eticamente aceitáveis [1], mantendo o máximo de qualidade no atendimento em saúde com o mínimo de intervenção [2].  

Os efeitos da aplicação da P4 dentro de um contexto clínico se expandem para além do cenário do cuidado individual, com possíveis consequências econômicas   para os sistemas públicos e privados de saúde e impacto direto nos acordos coletivos de saúde. 

 

Tipos de prevenção 

Para entender como a prevenção quaternária está situada dentro das estratégias de prevenção como um todo, apresentamos as categorias de prevenção: 

  • Prevenção Primária (P1): atividades para evitar ou remover a exposição de um indivíduo ou de uma população a um fator de risco antes que se desenvolva uma doença [3]. Exemplos: vacinação e orientações de estilo de vida. 
  • Prevenção Secundária (P2): detecção de um problema de saúde em um indivíduo ou população ainda em fase precoce [3]. Exemplo: rastreamento de câncer de colo do útero por meio da coleta do exame de Papanicolaou. 
  • Prevenção Terciária (P3): ações para reduzir os custos sociais e econômicos de uma doença na população através do tratamento, reabilitação e reintegração precoces dos pacientes [4,5,6].  
  • Prevenção Quaternária (P4): com o desenvolvimento de modelos para o atendimento centrado na pessoa, o ponto de vista do paciente também passou a ser levado em consideração e uma nova perspectiva se apresentou para os níveis de prevenção [7]. 

 

A Figura 1 apresenta uma matriz com os tipos de prevenção dentro de um contexto prático de cuidado em saúde [8,9]. 

Figura 1. Categorias de prevenção no contexto do cuidado em saúde. 

Fonte: adaptado de [8] e [9] 

Iniciativas voltadas para prevenção quaternária 

Choosing Wisely 

Criado a partir da iniciativa pioneira do American Board of Internal Medicine (ABIM) de sugerir às especialidades médicas que refletissem sobre suas práticas e elaborassem uma lista de condutas médicas rotineiras que não deveriam ser feitas ou, pelo menos, não de forma indiscriminada. A iniciativa segue a máxima do “menos é mais” e defende um uso racional e apropriado dos recursos em saúde, sem cometer excessos que podem trazer mais danos que benefícios aos pacientes. Acesse a página da iniciativa em: https://www.choosingwisely.org  

 

Slow Medicine 

A iniciativa é uma resposta contra a prática médica atual caracterizada pela falta de tempo e suas consequências: consultas rápidas, profissionais apressados e comprometimento da relação médico-paciente. Defende o raciocínio clínico e o cuidado centrado na pessoa bem como um uso racional das tecnologias, sem excessos desnecessários, sempre considerando as evidências científicas atuais. Acesse a página da iniciativa em: cesse a página da iniciativa em: https://www.slowmedicine.com.br/slowcast/.  

 

 

Autores: Adriana Machado, Carina Chicote, Darizon Filho, Lucia Sampaio e Mateus Borges, alunos do Programa de Pós-Graduação em Saúde Baseada em Evidências – Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). 

Supervisora: Carolina de Oliveira Cruz Latorraca, Psicóloga, PhD. Professora, Centro Universitário São Camilo (CUSC). 

Profa Dra Rachel Riera, MD, MSc, PhD. Professora adjunta, Escola Paulista de Medicina (EPM), Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) 

Citar como: Machado A, Chicote C, Filho D, Sampaio L, Borges M, Latorraca COC, Riera R. Prevenção quaternária. Estudantes para a melhor evidência (EME) Cochrane. Disponível em: [colar link]. Acessado em [dia, mês, ano]. 

 

Referências 

 

  1. Bentzen N. Wonca Dictionary of General/Family Practice. Maanedsskr. Copenhagen; 2003. 
  2. Tesser CD. Prevenção Quaternária para a humanização da Atenção Primária à Saúde. O Mundo da Saúde.2012;36(3):416-42. 
  3. Jamoulle M. Quaternary prevention: prevention as you never heard before (definitions for the four prevention fields as quoted in the WONCA international dictionary for general/family practice). 2000. Disponível em http://www.ulb.ac.be/esp/mfsp/quat-en.html. Acessado em 2 de maio de 2022. 
  4. Barker WH. Prevention of disability in older persons. In WALLACE, R. B., ed.lit. — Public health and preventive medicine. Stamford (Connecticut): Appleton & Lange, 1998. 1059-1068. 
  5. Alwan A. Noncommunicable diseases : a major challenge for public health in the region. Eastern Mediterranean Health Journal.1997;3(1):6-16. 
  6. Fowler G, Gray M.Opportunities for prevention in general practice. In Gray, M.; Fowler, G., ed. lit — Preventive medicine in general practice. Oxford  Oxford University Press, 1983. 20-32. 
  7. McWhinney IR. A textbook of family medicine. 2nd ed. Oxford. Oxford University. 1997. 
  8. Jamoulle M. Quaternary prevention, an answer of family doctors to overmedicalization. Int J Health Policy Manag. 2015;4(2):61-4. 
  9. Tesser CD, Norman AH. Prevenção quaternária e medicalização: conceitos inseparáveis. Interface – Comunicação, Saúde, Educação [online]. Disponível em: https://doi.org/10.1590/interface.210101. Acessado em 2 de maio de 2022. 

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