Revisão de Escopo

Publicado por 12 de Junho de 2024 em

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Introdução 

Revisão de escopo (do inglês scoping review) é uma síntese de evidências, proposta inicialmente em 2005 [1], mas que tem incorporado modificações importantes na sua estrutura metodológica desde então [2,3]. Atualmente o principal guia metodológico para revisão de escopo é mantido pelo Instituto Joanna Briggs [4-6]. 

 

Objetivos da revisão de escopo 

Esse tipo de síntese não se propõe a buscar a melhor evidência sobre uma intervenção em saúde, como ocorre em uma revisão sistemática. mas a reunir os variados tipos de evidências e mostrar como foram produzidas. Além disso, é útil para rastrear e antecipar potencialidades das evidências encontradas, apoiando pesquisadores, profissionais da saúde, gestores e formuladores de políticas de saúde [7]. 

 

De forma geral, uma revisão de escopo pode ser conduzida com um ou mais dos seguintes objetivos: 

  • mapear e sumarizar as evidências disponíveis e identificar lacunas de conhecimento para guiar futuras pesquisas [1,6] 
  • mapear conceitos em torno de uma determinada área do conhecimento [1] 
  • identificar como, por quem e com que finalidade um determinado termo é usado em uma área do conhecimento [8]; 
  • explorar a extensão da literatura [6]; 
  • mapear metodologias de estudo ou políticas em uma área [6,8]. 
  • guiar a escolha e a definição da pergunta de interesse mais relevante para uma futura revisão sistemática. 

 

Em algumas situações relacionadas a avaliações clínicas, pode não ser possível fazer perguntas únicas e precisas, sendo indicado o mapeamento e discussão de certas características e conceitos em fontes de evidência primárias. Nesses casos, uma revisão de escopo é a melhor escolha. Uma vez identificado o tipo e o escopo da evidência disponível e como a pesquisa tem sido conduzida em um determinado tópico, pode ser recomendada a realização de novos estudos primários ou de uma revisão sistemática com uma pergunta mais precisa e específica [2,8,9]. As principais diferenças entre revisão sistemática e revisão de escopo estão apresentadas no Quadro 1. 

 

Quadro 1. Principais diferenças entre revisão sistemática e revisão de escopo. 

*para saber mais sobre revisão sistemática, leia o nosso post em https://eme.cochrane.org/revisoes-sistematicas. [11]. **para saber mais sobre os acrônimos para perguntas de interesse, acesse: https://eme.cochrane.org/estrutura-da-pergunta-de-interesse-uso-de-acronimos/ [12] 

 

Etapas da condução de uma revisão de escopo 

A seguir são apresentadas as etapas para a condução de uma revisão de escopo de acordo com o guia metodológico do Instituto Joanna Briggs [4-6]. 

(1) Protocolo 

Da mesma forma que as revisões sistemáticas, as revisões de escopo exigem um protocolo de revisão prévio que delineia objetivos, métodos e planos. Embora mudanças no protocolo sejam mais comuns devido à natureza iterativa da revisão de escopo, estas devem ser justificadas na seção “métodos” do texto final produzido [3,4]. 

(2) Título 

O título deve ser objetivo e indicar a “População”, o “Conceito” e o “Contexto”, que são os elementos da revisão que delimitam critérios de inclusão e exclusão [3,4] 

(3) Pergunta de interesse/objetivo da revisão 

A pergunta de interesse é guiada pelo acrônimo PCC, que corresponde respectivamente a população, conceito e contexto, sendo recomendado para construir objetivos, indicar o escopo do trabalho, delimitar os critérios de elegibilidade para a revisão [3,4]. O conceito definirá a abrangência do trabalho e pode incluir todos os detalhes necessários como intervenções, desenhos de pesquisa, estruturas, teorias ou classificações [3,4]. O contexto definirá outros elementos que delimitam o escopo da revisão como fatores geográficos, culturais, ou outros fatores específicos do contexto avaliado [3,4]. 

(4) Busca por estudos 

A busca de estudos deve ser realizada de forma sistemática, abrangente e estruturada, e consiste em três etapas principais [3,4] 

  • Busca inicial em bancos de dados relevantes, também chamada de busca piloto 
  • Análise dos resultados encontrados para avaliar palavras-chave que podem ser relevantes para a segunda busca mais abrangente e estruturada.  
  • Busca manual nas listas de referências dos resultados incluídos na triagem.  

 

(5) Extração de dados  

Todos os estudos encontrados na busca precisam ser considerados em um fluxograma PRISMA (https://www.prisma-statement.org/) indicando quantos foram incluídos e excluídos em cada etapa [3,4]. A extração de dados dos resultados incluídos na deve considerar todos os dados relevantes para a pergunta de interesse conforme o propósito da revisão [2,13] 

(6) Relato dos resultados  

Para apoiar a elaboração do relato, recomenda-se usar o Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR) [14] 

 

Conclusão 

As revisões de escopo são particularmente úteis quando a literatura é complexa e heterogênea. Esse tipo de estudo visa identificar e mapear sistematicamente a amplitude das evidências disponíveis sobre um determinado tópico, campo, conceito ou questão dentro de contextos específicos, e isso requer uma abordagem analítica de diferentes tipos de estudo. Dessa forma, a revisão de escopo se coloca como um recurso valioso para identificar lacunas do conhecimento, para guiar futuras revisões sistemáticas e para fornecer informações úteis aos tomadores de decisão sobre a natureza de um conceito e como ele foi estudado na literatura ao longo do tempo. 

 

Autoria: Camila Cruz, Gabriel Cambraia Pereira, Isabella Gonzalez Raposo de Mello, Valéria Gresczeschen, Wilian Martins Guarnieri. Aluno de pós-graduação do Programa de Saúde Baseada em Evidências da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). 

 

Citar como: Cruz C, Pereira GC, Mello IGR, Gresczeschen V, Guarnieri W. Revisão de escopo. Estudantes para as melhores evidências (EME) Cochrane. Disponível em {link de acesso]. Acessado em [dia, mês e ano].   

 

Referências 

  1. Arksey H, O’Malley L. Scoping studies: towards a methodological framework. Int J Soc Res Methodol 2005;8:19–32. https://doi.org/10.1080/1364557032000119616. 
  2. Peters MD, Godfrey C, McInerney P, Munn Z, Tricco AC, Khalil H. Scoping reviews. JBI Manual for Evidence Synthesis, JBI; 2024. https://doi.org/10.46658/JBIMES-24-09. 
  3. Peters MDJ, Godfrey CM, Khalil H, McInerney P, Parker D, Soares CB. Guidance for conducting systematic scoping reviews. Int J Evid Based Healthc 2015;13:141–6. https://doi.org/10.1097/XEB.0000000000000050. 
  4. Peters MDJ, Marnie C, Tricco AC, Pollock D, Munn Z, Alexander L, et al. Updated methodological guidance for the conduct of scoping reviews. JBI Evid Synth 2020;18:2119–26. https://doi.org/10.11124/JBIES-20-00167. 
  5. Micah Peters, Zachary Munn, Christina M Godfrey, Patricia Mcinerney. Chapter 11: Scoping reviews. JBI Manual for Evidence Synthesis, JBI; 2020. https://doi.org/10.46658/JBIMES-20-12. 
  6. Tricco AC, Lillie E, Zarin W, O’Brien K, Colquhoun H, Kastner M, et al. A scoping review on the conduct and reporting of scoping reviews. BMC Med Res Methodol 2016;16:15. https://doi.org/10.1186/s12874-016-0116-4. 
  7. Cordeiro L, Baldini Soares C. Revisão de escopo: potencialidades para a síntese de metodologias utilizadas em pesquisa primária qualitativa. BIS Boletim Do Instituto de Saúde 2020;20:37–43. https://doi.org/10.52753/bis.2019.v20.34471. 
  8. Anderson S, Allen P, Peckham S, Goodwin N. Asking the right questions: Scoping studies in the commissioning of research on the organisation and delivery of health services. Health Res Policy Syst 2008;6:7. https://doi.org/10.1186/1478-4505-6-7. 
  9. Munn Z, Stern C, Aromataris E, Lockwood C, Jordan Z. What kind of systematic review should I conduct? A proposed typology and guidance for systematic reviewers in the medical and health sciences. BMC Med Res Methodol 2018;18:5. https://doi.org/10.1186/s12874-017-0468-4. 
  10. Khalil H, Peters M, Godfrey CM, McInerney P, Soares CB, Parker D. An Evidence‐Based Approach to Scoping Reviews. Worldviews Evid Based Nurs 2016;13:118–23. https://doi.org/10.1111/wvn.12144. 
  11. Medyk AB, Mendes AS, Libório LG, Martimbianco ALC. Revisões sistemáticas. Estudantes para Melhores Evidências. Cochrane. Disponível em: https://eme.cochrane.org/revisoes-sistematicas/ . Acessado em 08 de maio de 2024.  
  12. Siqueira GF, Brito IA, Okabe LY, Santos JPN, Latorraca COC. Acrônimos e perguntas de pesquisa. Estudantes para as melhores evidências (EME) Cochrane. Disponível em: https://eme.cochrane.org/estrutura-da-pergunta-de-interesse-uso-de-acronimos/. Acessado em 08 de maio de 2024. 
  13. Pollock D, Peters MDJ, Khalil H, McInerney P, Alexander L, Tricco AC, et al. Recommendations for the extraction, analysis, and presentation of results in scoping reviews. JBI Evid Synth 2023;21:520–32. https://doi.org/10.11124/JBIES-22-00123. 
  14. Tricco AC, Lillie E, Zarin W, O’Brien KK, Colquhoun H, Levac D, et al. PRISMA Extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR): Checklist and Explanation. Ann Intern Med 2018;169:467–73. https://doi.org/10.7326/M18-0850. 

 

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