Revisões sistemáticas vivas
Publicado por 13 de Outubro de 2022 em Estudantes para Melhores Evidências
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Contexto
Revisões sistemáticas são consideradas os desenhos de estudo mais adequados para apoiar guias de prática clínica e a tomada de decisão e têm contribuído para a redução da lacuna “conhecer-fazer” (know-to-do gap) [1,2].
No entanto, para cumprir estes papéis, uma revisão sistemática precisa [3]:
· abordar questões que ainda não foram respondidas de forma apropriada – para isso, é preciso certificar que já não exitem revisões recentes sobre a mesma questão, evitando redundância de publicações;
· ser metodologicamente robusta – para isso, o desenvolvimento de métodos para aumentar a qualidade, reduzir o risco de viés e a incerteza tem sido contínuo
· apresentar buscas atualizadas;
· ser relatada de modo adequado.
No entanto, manter a busca de uma revisão sistemática atualizada é um desafio e a literatura mostra que [4,5,6]:
· o tempo entre a data da busca e a publicação da revisão é geralmente superior a um ano;
· o tempo médio entre a publicação do estudo primário e a publicação da revisão varia entre 2,5 e 6,5 anos;
· uma minoria das revisões sitemátics é atualizada dentro de dois anos após a publicação;
· em dois anos após a publicação, 23% das revisões que não foram atualizadas terão deixado de incorporar novas evidências que alterariam substancialmente suas conclusões.
Adicionalmente, outros fatores tornam o processo de atualização de revisões sistemáticas ineficiente [7]:
· a abordagem atual para a atualização de uma revisão sistemática se concentra nas identificação daquelas que mais necessitam de atualização – isso minimiza o problema, mas não consegue controlar a imprecisão causada pelas reviões desatualizadas.
· é frequentemente difícil formar uma equipe de autoria para completar atualizações prioritárias;
· a publicação de atualizações leva muitos meses – neste período a revisão permanece desatualizada e, portanto, potencialmente imprecisa.
Assim, há muitas revisões sistemáticas que estão e permanecerão desatualizadas e imprecisas. Os avanços na atualização das revisões sistemáticas tradicionais dificilmente levarão a melhoras substanciais e sustentadas considerando um contexto do crescimento exponencial no volume de estudos primários e na quantidade de revisões publicadas [7].
O que é uma revisão sistemática viva
É uma revisão sistemática continuamente atualizada, incorporando novas evidências à medida que elas se tornam disponíveis [8]. Também são definidas como sínteses on-line, de alta qualidade, de estudos em saúde, atualizadas à medida que novas pesquisas se tornam disponíveis, e que são possibilitadas por um processo de produção eficiente e pela adesão às normas de comunicação acadêmica [1].
É importante entender que a revisão sistemática viva não substitui os métodos existentes de revisões sistemáticas tradicionais, mas acrescenta, e é particularmente relevante para alguns cenários.
Revisão sistemática tradicional versus revisão sistemática viva
O Quadro 1 aprsenta o principais tópicos no quais estas abordagensde revisão se diferem.
Quadro 1. Principais diferenças entre revisões sistemáticas tradicionais e vivas
Quando fazer uma revisão sistemática viva
· certeza da evidências ainda é limitada;
· área temática de rápida evolução em termos de condução de estudos primários;
· cenário BANI/FANI (Quadro 2)
Quadro 2. Adaptação do acrônimo BANI/FANI no contexto da pesquisa
Como planejar, conduzir e relatar uma revisão sistemática viva
· Planejamento e condução: Guidance for the production and publication of Cochrane living systematic reviews: [10]
· Relato: PRISMA LSR – PRISMA For Living Systematic Reviews (https://www.equator-network.org/) [8].
Em resumo, as revisões sistemáticas vivas, são um novo esforço para produzir evidências confiáveis e atualizadas, visando o objetivo de embasar decisões práticas.
Autoras: Isabella Ferreira Ribeiro, aluna de graduação da Escola Paulista de Medicina (EPM), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Supervisoras: Rachel Riera. Professora adjunta, Disciplina de Medicina Baseada em Evidências, Escola Paulista de Medicina (EPM), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Carolina de Oliveira Cruz Latorraca, Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM).
Como citar: Ribeiro IF, COC Latorraca, Riera R. Revisões sistemáticas vivas. Estudantes para Melhores Evidências (EME) Cochrane. Disponível em: [colar link]. Acessado em [dia, mês e ano].
Referências
1. Elliott JH, Turner T, Clavisi O, Thomas J, Higgins JP, Mavergames C, Gruen RL. Living systematic reviews: an emerging opportunity to narrow the evidence-practice gap. PLoS Med. 2014 Feb 18;11(2):e1001603.
2. WHO. Bridging the ‘‘know-do’’ gap: meeting onknowledge translation in global health. 2005. Geneva:World Health Organization. Disponível em: https://www.measureevaluation.org/resources/training/capacity-building-resources/high-impact-research-training-curricula/bridging-the-know-do-gap.pdf. Acessado em 27 de setembro de 2022.
3. Grimshaw JM, Eccles MP, Lavis JN, Hill SJ, Squires JE. Knowledge translation ofresearch findings. Implement Sci. 2012;7: 50.
4. Riera R. Revisões Sistemáticas vivas: como elaborar evidências em tempo real. II Congresso da Rebrats, 18 de jul. de 2022 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=z_SNH-ALu4s&list=PL3cIB8-yT2inoiB3yUnuAO-jbyLd67C4K&index=12. Acessado em 27 de setembro de 2022.
5. Sampson M, Shojania KG, Garritty C, HorsleyT, Ocampo M, et al. Systematic reviewscan be produced and published faster. J Clin Epidemiol.2008;61: 531–536.7.
6. Bragge P, Clavisi O, Turner T, Tavender E, Collie A, et al. The global evidencemapping initiative: scoping research in broadtopic areas. BMC Med Res Methodol.2011; 11: 92.8.
7. Shojania KG, Sampson M, Ansari MT, Ji J,Doucette S, et al. How quickly do systematic reviews go out of date? A survivalanalysis. Ann Intern Med.2007;147: 224–233.
8. Kahale LA, Elkhoury R, El Mikati I, Pardo-Hernandez H, Khamis AM, Schünemann HJ, Haddaway NR, Akl EA. Tailored PRISMA 2020 flow diagrams for living systematic reviews: a methodological survey and a proposal. F1000Res. 2021 Mar 8;10:192. doi: 10.12688/f1000research.51723.3. PMID: 35136567; PMCID: PMC8804909.
9. Cascio J. Facing the aging of caos.2020. Disponível em: https://medium.com/@cascio/facing-the-age-of-chaos-b00687b1f51d. Acessado em 27 de setembro de 2022.
10. Guidance for the production and publication of Cochrane living systematic reviews: Cochrane Reviews in living mode. Version December 2019. Disponível em: https://community.cochrane.org/sites/default/files/uploads/inline-files/Transform/201912_LSR_Revised_Guidance.pdf. Acessado em 27 de setembro de 2022.