Classificação e tipos de ensaios clínicos

Publicado por 21 de Fevereiro de 2024 em

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Introdução 

Ensaios clínicos são estudos experimentais (de intervenção), longitudinais e prospectivos que avaliam os efeitos de uma ou mais intervenções em termos de desfechos em saúde. Grupos de participantes recebem diferentes intervenções (ou placebo ou nenhuma intervenção) e os desfechos observados antes, ao longo e/ou após o curso da intervenção são mensurados em cada grupo e comparados entre os grupos.  

 

Classificação 

Os ensaios clínicos podem ser classificados de acordo com diferentes critérios. Veja no Quadro 1 algumas das classificações mais frequentemente observadas na literatura [2]. 

 

Quadro 1. Classificação dos ensaios clínicos [2] 
Critério  Classificação 

Número de centros  

  • Multicêntrico: dois ou mais centros contribuem para a inclusão de participantes. Os centros podem ser universidades, unidades de saúde ou centros de pesquisa em um único país ou em diferentes países. Potenciais vantagens são a possibilidade de maior velocidade de recrutamento e maior número de participantes.  
  • Centro único: geralmente ensaios clínicos menores ou e fases iniciais (I ou II). 

 

Para saber mais sobre as fases de um ensaio clínico, acesse: https://eme.cochrane.org/quais-sao-as-fases-de-um-ensaio-clinico/ [3] 

Unidade de randomização [4] 

  • Individual:  participante. 

 

  • Cluster convencional: grupos de participantes são randomizados como uma única unidade. 

 

  • Cluster stepped-wedge: grupos de participantes são randomizados como uma única unidade, mas recebem as intervenções em diferentes  momentos ao longo do tempo . 

Para saber mais sobre ensaios clínicos do tipo cluster stepped-wedge, acesse: https://eme.cochrane.org/stepped-wedge-trials/ [5]. 

Tamanho da amostra [6] 

 

  • Megatrial: inclui um grande número de participantes (geralmente mais de 5.000)  

 

  • Ensaios clínicos n = 1: um único participante recebe as intervenções comparadas em diferentes momentos, como um crossover de um único participante. É utilizado para condições de saúde de curso imprevisível, quando há resposta imediata, quando não há risco de efeito carry-over (residual), e para  levantar hipóteses relevantes. 

Concomitância das intervenções comparadas  

  • Paralelo: os grupos comparados recebem as intervenções de concomitantemente ao longo do tempo. 

 

  • Crossover: grupos recebem as intervenções de modo concomitante ao longo do tempo, mas em determinado momento do estudo, as intervenções recebidas são trocadas entre os grupos e todos os participantes recebam todas as intervenções, mas durante diferentes períodos ao longo do estudo. 

 

  • Antes e depois: todos os participantes recebem uma única intervenção e os desfechos são mensurados antes e após a intervenção. O objetivo é determinar se houve impacto positivo, negativo ou neutro da intervenção em relação ao estado inicial dos participantes e a potencial vantagem seria que cada participante funciona como seu próprio controle, garantindo homogeneidade entre os grupos comparados. 

 

Método de geração da sequência de alocação (randomização) 

  • Randomizado: estudo adota um método aleatória para distribui os participantes nos grupos, impedindo a identificação da alocação do próximo participante e garantindo que todos os participantes tenham a mesma probabilidade de serem alocados em um dos grupos de comparação.  

 

  • Quasi-randomizado: o método utilizado para distribuição permite identificar a alocação do participante seguinte e/ou permite com que os participantes tenham diferentes probabilidade de serem alocados em um dos grupos de comparação. Com exemplos de quasi-randomização, há os métodos de alternância, ou de acordo com o número final do prontuário (par ou ímpar). 

 

 

  • Não-randomizado: nenhum método aleatório foi utilizado para distribuir os participantes. 

Para saber mais sobre os métodos de geração da sequência de alocação (randomização), acesse: https://eme.cochrane.org/randomizacao-e-sigilo-de-alocacao/ [7]. 

Método de mascaramento  

  • Duplo-cego:  participantes/equipe e avaliadores dos desfechos são mascarados com relação à intervenção recebida por cada participante, minimizando o risco de viés de condução e de aferição. 

 

  • Simples cego: participantes/equipe ou avaliadores dos desfechos são mascarados com relação à intervenção recebida por cada participante. 

 

  • Aberto: participantes/equipe e avaliadores dos desfechos não são mascarados com relação à intervenção recebida por cada participante. 

 

Para saber mais sobre método de mascaramento, acesse: https://eme.cochrane.org/randomizacao-e-sigilo-de-alocacao/ [8]. 

Presença de grupo controle 

  • Controlado: há um grupo controle que pode receber placebo, intervenção ativa, nenhuma intervenção ou ficar na lista de espera. 

 

  • Não-controlado: todos os participantes recebem a intervenção avaliada, e os desfechos mensurados apenas neste grupo. 

Semelhança com a realidade [6,9] 

  • Pragmático (efetividade): adota métodos durante o planejamento, condução e análise que procuram reproduzir a realidade (por exemplo, utiliza análise por intenção de tratar) 

 

  • Explanatório (eficácia): adota métodos durante o planejamento, condução e análise que o aproximam de um cenário ideal. 

 

  • Adaptativo: adota modelo dinâmico no qual os desfechos são mensurados uma ou múltiplas vezes ao longo de sua condução, permitindo identificar a necessidade de modificações nos métodos de execução do estudo. 

Para saber mais sobre estudos adaptativos, acesse: https://eme.cochrane.org/randomizacao-e-sigilo-de-alocacao/ [10]. 

Hipótese do estudo 

  • Superioridade: avalia se há superioridade (em termos de eficácia ou segurança) de uma intervenção sobre outra ou sobre o placebo.  

 

  • Não-inferioridade: avalia se uma intervenção não é inferior a outra em termos de eficácia, podendo ser semelhante ou superior. 

 

  • Equivalência: avalia se há intervenção equivale a outra, não sendo superior ou inferior.  

Número de comparações 

  • Um par de comparação: ensaio clínico convencional que compara duas ou mais intervenções de modo isolado, como exemplo sinvastatina versus placebo. 

 

  • Fatorial: ensaio clínico que avalia os efeitos isolado ou associado de intervenções. Exemplo: sildenafil + psicoterapia (grupo 1) versus placebo + psicoterapia (grupo 2) versus sham de psicoterapia + sildenafil (grupo 3) versus sham de psicoterapia + placebo (grupo 4) para tratamento de disfunção erétil. 

 

Para saber mais sobre placebo e sham, acesse: https://eme.cochrane.org/randomizacao-e-sigilo-de-alocacao/ [11]. 

 

Conclusão 

Diferentes tipos de ensaios clínicos, com diferentes vantagens e limitações podem ser indicados para situações específicas. É importante conhecer estes tipos e suas classificações para avaliar seus potenciais impactos na qualidade dos estudos e nos riscos de vieses. 

 

 

Autores: Ana Carolina Zacharias de Oliveira, Camila Padula Domingues, Gabriel Alves Freiria de Oliveira, Guilherme Jooji Morisita, Lucas Ferreira Fagundes Ouverney, Luiza de Mendonça Rocha. Alunos de graduação, Escola Paulista de Medicina (EPM), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). 

 

Supervisora: Rachel Riera. Professora adjunta, Disciplina de Medicina Baseada em Evidências, Escola Paulista de Medicina (EPM), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).  

 

Citar como: Oliveira ACZ, Domingues CP, Oliveira GAF, Morisita GJ, Ouverney LFF, Rocha LM, Riera R. Classificação e tipos de ensaios clínicos. Estudantes para melhores evidências. Cochrane. Disponível em: [adicionar link da página da web]. Acessado em [adicionar dia, mês e ano de acesso].   

 

 

Referências 

  1. Hochman B, Nahas FX, Oliveira Filho RS, Ferreira LM. Desenhos de pesquisa. Acta Cirurgica Brasileira. 2005;20(suppl 2):2–9. doi:10.1590/S0102-86502005000800002.
  2. Martimbianco ALC, Riera R. Saúde baseada em evidências: conceitos, métodos e aplicação prática. 1ª edição. Atheneu, 2022. São Paulo.
  3. Sá KMM. Quais são as fases de um ensaio clínico? Estudantes para melhores Evidências. Cochrane. Disponível em: https://eme.cochrane.org/quais-sao-as-fases-de-um-ensaio-clinico/. Acessado em 19 de novembro de 2023. 
  4. Guyatt G, Sackett D, Taylor DW, Chong J, Roberts R, Pugsley Determining optimal therapy–randomized trials in individual patients. N Engl J Med. 1986;314(14):889-92. doi: 10.1056/NEJM198604033141406. PMID: 2936958.
  5. Victorino AAV, Franco BT, Leão EI, Neto EE, Dias LFS, Riera R. Stepped-wedge trials. Estudantes para Melhores Evidências (EME) Cochrane. Disponível em: https://eme.cochrane.org/stepped-wedge-trials/. Acessado em 19 de novembro de 2023.
  6. Fletcher RH, Fletcher SW, Fletcher Epidemiologia clínica. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 296p.
  7. Santos GM. Randomização e sigilo de alocação. Estudantes para melhores Evidências. Cochrane. Disponível em: https://eme.cochrane.org/randomizacao-e-sigilo-de-alocacao/. Acessado em 19 de novembro de 2023.  
  8. Bandeira MD. Mascaramento em ensaios clínicos. Estudantes para melhores Evidências. Cochrane. Disponível em: https://eme.cochrane.org/mascaramento-em-ensaios-clinicos/.  Acessado em 19 de novembro de 2023. 
  9. Sackett DL, Gent M. Controversy in counting and attributing events in clinical trials. N Engl J Med. 1979 Dec 27;301(26):1410-2. doi: 10.1056/NEJM197912273012602. PMID: 514321.
  10. Farinasso CM, Curto ML, Miori JAL, Riera R. Ensaios clínicos adaptativos. Estudantes para as melhores evidências (EME) Cochrane. Disponível em: https://eme.cochrane.org/ensaio-clinico-adaptativo/. Acessado em 19 de novembro de 2023.
  11. Cardoso AVS, Gobi ELN, Santos MF, Sampaio L. Placebo e sham. Estudantes para as melhores evidências (EME) Cochrane. Disponível em: https://eme.cochrane.org/placebo-e-sham/. Acessado em 19 de novembro de 2023.

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