Revisão por pares

Publicado por 11 de Agosto de 2023 em

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Introdução 

A revisão por pares (em inglês, peer review) é um processo de avaliação crítica de um trabalho científico, feito por especialistas da mesma área (pares), para averiguar se a produção atende aos padrões necessários para ser aceita ou publicada [1]. A revisão por pares constitui uma das etapas processo editorial de um manuscrito e para conhecer este processo, leia o texto do EME “Como é o processo editorial de uma revista científica?”, disponível em:  https://eme.cochrane.org/como-e-o-processo-editorial-de-uma-revista-cientifica [2]. 

 A origem da revisão por pares data do século XVIII, com os primeiros periódicos científicos, das sociedades intelectuais da época, notadamente da Royal Society of Edinburgh e da Royal Society of London. Os artigos recebidos pelo editorial eram avaliados por especialistas da área, que decidiam se deveriam ou não serem publicados [3]. 

Com o aumento do número de artigos submetidos às revistas científicas, o processo se tornou cada vez mais necessário para filtrar as informações e selecionar os estudos mais relevantes para a comunidade. Ernest Abraham Hart, então editor do British Medical Journal, deu uma declaração interessante sobre esse tema, em 1893: 

“É um método trabalhoso e difícil, envolvendo pesada correspondência diária e vigilância constante para se precaver contra excentricidades ou preconceitos pessoais, ou aquele ‘bicho-papão’ da censura injustificável” [3]   

Modelos de revisão por pares 

Existem diferentes modelos de revisão por pares de acordo com o status de mascaramento dos envolvidos, ou seja, de acordo com o fato de o autor e os revisores conheceram ou não a identidade um do outro [4]: 

  • Mascaramento simples: os revisores sabem a identidade dos autores, mas estes desconhecem quem são os revisores de seu manuscrito; 
  • Mascaramento duplo: autores e revisores não sabem a identidade um do outro; 
  • Mascaramento triplo: nem mesmo o editor do periódico tem conhecimento da identidade dos autores e dos revisores. 

Outra modalidade são as revisões abertas (open reviews), cujo exemplo mais conhecido pelo público são os preprints, que nada mais são que artigos que são disponibilizados antes de serem revisados por pares. Desse modo, os leitores poderão utilizar a informação e oferecer sugestões e críticas, funcionando como revisores [4]. Para conhecer o que são preprints, leia o texto do EME “O fenômeno dos preprints”, disponível em: https://eme.cochrane.org/o-fenomeno-dos-preprints/ [5]. 

Apesar de trabalhosa e associada a muita responsabilidade, a atividade do revisor por par, com raras exceções, é voluntária e a contrapartida se limita aos agradecimentos do periódico ao revisor. Assim, uma outra preocupação compartilhada pelos periódicos é a identificação de estratégias para estimular pesquisadores a aceitarem o convite para a revisão de um manuscrito.  

 

Vieses associados ao processo de revisão por pares 

Alguns vieses podem ocorrer com o modelo de mascaramento simples. Por exemplo, um estudo sobre o processo editorial das revistas International Urogynecology Journal e Neurourology and Urodynamics revelou que 40% de seus autores provenientes de países subdesenvolvidos acreditam haver preconceito contra suas publicações, em vista de sua origem [6]. A revista da American Heart Association implementou o modelo de mascaramento duplo em 2002 e a análise de dados dos três anos posteriores revelou que revisores “mascarados” aceitaram mais manuscritos de instituições “não famosas” e de fora dos Estados Unidos, enquanto revisores não mascarados aceitaram mais manuscritos vindos de instituições prestigiadas [7]. 

As “revistas predatórias”, que põem o interesse financeiro acima do científico, podem ter um processo editorial inapropriado. Elas cobram taxas de publicação e possuem uma revisão extremamente deficitária, aceitando artigos com falhas significativas [8]. Para saber mais sobre revistas predatórias, leia o texto do EME “Revistas predatórias” disponível em: https://eme.cochrane.org/revistas-predatorias/ [9]. 

 

Autores: Marcos Túlio Castro Peixoto, aluno de graduação em medicina, Universidade Federal Juiz de Fora, campus Governador Valadares (UFJF-GV),  Styllon Ferreira, aluno de graduação em fisioterapia, Universidade Federal Juiz de Fora, campus Governador Valadares (UFJF-GV).  Integrantes do Grupo de Estudos MEDERI UFJF-GV. 

 

Citar como: Peixoto MTC, Ferreira S. Revisão por pares. Estudantes para Melhores Evidências. Cochrane. https://eme.cochrane.org/o-fenomeno-dos-preprints/. Acessado em 19 de julho de 2023. 

 

Referências 

  1. Twiaj H, Oussedik S, Hoffmeyer P. Peer review. The bone & joint journal.2014; 96(4):436- 41.  Disponível em: http://dx.doi.org/10.1302/0301-620x.96b4.33041. Acessado em 19 de julho de 2023. 
  2. Martinez A, Valsecchi V. Como é o processo editorial de uma revista científica? Estudantes para Melhores Evidências. Cochrane. Disponível em: https://eme.cochrane.org/como-e-o-processo-editorial-de-uma-revista-cientifica/. Acessado em 19 de julho de 2023. 
  3. Chapelle FH. The history and practice of peer review. Ground water. 2014; 52(1):1. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1111/gwat.12139.  Acessado em 19 de julho de 2023. 
  4. Bazi T. Peer review: single-blind, double-blind, or all the way-blind? International urogynecology journal .2020;31(3):481-3. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1007/s00192-019-04187-2. Acessado em 19 de julho de 2023. 
  5. Caruso MC, Benício J. O fenômeno dos preprints. Estudantes para Melhores Evidências. Cochrane. Disponível em: https://eme.cochrane.org/o-fenomeno-dos-preprints/. Acessado em 19 de julho de 2023. 
  6. Najjar W, Mouanness MA, Rameh G, Bazi T. International authorship in leading world journals on incontinence and pelvic floor disorders: is it truly international? Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol. 2019;241:104–8. 
  7. Ross JS, Gross CP, Desai MM, Hong Y, Grant AO, Daniels SR, et al. Effect of blinded peer review on abstract acceptance. JAMA. 2006;295:1675–80. 
  8. Bohannon J.   Who’s Afraid of Peer Review? Science.2013; 342(6154):60-5. Disponível em: https://www.science.org/doi/10.1126/science.342.6154.60. Acessado em 19 de julho de 2023. 
  9. Hsu FA, Riera R. Revistas predatórias. Estudantes para Melhores Evidências. Cochrane. Disponível em: https://eme.cochrane.org/revistas-predatorias/. Acessado em 19 de julho de 2023. 

 

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